Cresci em uma
família italiana que há mais de cem anos mora no Brasil.
Cresci vendo meu
avô tomar vinho, como que quem toma porções líquidas de vida, todos os dias.
Cresci com um pé
de uva no terraço da casa dele, algo extraordinário para uma casa no centro da
cidade, e com a minha avó acentuando o “r” enquanto tornava os domingos um
ritual de família em que a homenageada era a boa comida.
Cresci ouvindo
Gianni Morandi, Nico Fidenco, Rita Pavone, Lucio Dalla e Laura Pausini na sala
de casa. Dormindo em reuniões da instituição italiana da qual meu pai fazia
parte, assistindo “RAI”, perdendo meus pais algumas vezes para a Itália,
recebendo um doce casal de “amici italiani” em casa e esperando pelo queijo
parmesão que eles sempre traziam!
Vivenciei essas
experiências de forma natural e espontânea, sem notar elas se enraizarem em
mim.
Em setembro passado
visitei a Itália pela primeira vez, fui recebida de braços e coração aberto por
uma doce e amável família. Nessa oportunidade, vivendo o cotidiano italiano, eu
entendi o significado daquelas raízes. Reconheci os meus. Mais que isso: eu os
compreendi. E os vi em mim.
É bonito
enxergar a força da tradição cultural, que não se rompe nem após cem anos de
fluência do sangue fora do seu país de origem. É bonito se encontrar, se
reconhecer e deixar-se acolher.
Não é só uma
questão de sangue, talvez esse seja o ponto minoritário. É uma questão de
entender a sua construção e, daí, entender a dos outros!
A importância da
preservação das tradições culturais está em contar para você a sua história.
Permitir o autoconhecimento. Está em contar a sua história para o mundo.
Solidificar todas as existências que o trouxe aqui, onde a vida ainda flui. Possibilita
olhar para si e enxergar o mundo todo. Daí, nasce a empatia que faz mais
milagres que o moralmente e obrigacional respeito. E isso é mais que belo, é
poético! Afinal, nenhum povo toca o mundo sozinho.
E, veja, eu
nasci no Brasil cercada das tradições dos meus familiares italianos, com amigos
de família alemã, portuguesa, espanhola, africana e indígena, também cercados
cada qual com suas ricas tradições. Crescemos todos no mesmo solo e o Brasil
continua Brasil! Permanece com sua identidade própria. Apenas ganhou mais
graça, histórias e diversidade. Continua uno, pleno, autônomo!
Que sorte a
minha que a terra das palmeiras acolheu os meus imigrantes. Sou afortunada por
dividir minhas raízes com aqueles que abraçaram-na.
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